A maturidade é o palco onde muitas vezes a genialidade dá seu espetáculo mais memorável. Quando o mundo insiste em apressar os talentos, alguns desafiam o tempo e provam que nunca é tarde para criar algo eterno.
“Gênio é aquele que se reinventa todos os dias.”
Fernando Pessoa
Há algo profundamente mágico na maneira como o tempo, tantas vezes visto como inimigo, pode ser o maior aliado da genialidade. Não é extraordinário pensar que algumas das obras mais sublimes da humanidade floresceram em solo maduro, quando os ventos da juventude já haviam se acalmado?
Tim Harford, em seu artigo no FT Weekend Magazine, evoca exemplos que parecem desafiar a lógica do mundo acelerado em que vivemos. Janáček, o compositor que encontrou sua verdadeira voz aos 60 anos, e Van Gogh, cuja arte pulsante só emergiu quando o calendário já o pressionava. São histórias que gritam, contra a correnteza, que nunca é tarde para o esplendor humano.
Vivemos em um mundo que idolatra os prodígios, os jovens que parecem carregar em seus olhos todo o potencial do universo. Mas será que não estamos, nessa pressa cega, esquecendo a beleza da jornada? David Epstein, em Range, escreve sobre a importância de se perder para se encontrar, de experimentar o novo antes de abraçar um destino. Van Gogh, o homem que pintou os céus como ninguém, foi professor, pastor, comerciante. Cada tentativa, cada erro, cada curva no caminho, o aproximou da genialidade que hoje nos emociona.
E, ainda assim, a sociedade insiste em correr. Jovens são moldados, promovidos e descartados como se a vida fosse um espetáculo com um único ato. Quem se atreve a demorar é olhado com desdém, como se houvesse um prazo para sonhar, criar, viver. É uma lógica que sufoca o talento e desperdiça um potencial que só o tempo pode lapidar.
Mas o tempo, esse escultor silencioso, não é cruel. Ele é paciente, e espera por aqueles que têm coragem de desabrochar no seu ritmo. Van Gogh e Janáček nos lembram que a genialidade não está presa a calendários, nem a relógios. Ela floresce quando encontra solo fértil, mesmo que isso leve uma vida inteira.
No final, a eternidade não celebra os apressados. Ela pertence àqueles que, com paciência e paixão, ousam transformar o tempo em arte. E que privilégio é viver em um mundo onde o brilho do ouro pode surgir a qualquer instante. Basta acreditar.

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