Ouro e Chocolate. O Preço Amargo da Ganância

A busca desenfreada pelo ouro está devorando as terras férteis de Gana, onde antes brotava o cacau que adoça o mundo. Impedidos de lucrar com a alta global do chocolate, agricultores vendem suas plantações a mineradores ilegais, que destroem o solo e envenenam os rios. No centro dessa tragédia, está a volúpia humana – uma fome insaciável que transforma riquezas naturais em desolação.

O boom do ouro ilegal em Gana está devastando a produção de cacau do país e impulsionando os preços globais do chocolate a níveis históricos. Enquanto o valor da tonelada de cacau triplicou no mercado internacional, agricultores ganeses não conseguem usufruir desse benefício devido a rígidos controles de preço impostos pelo governo. Sem alternativas, muitos vendem suas terras a mineradores ilegais, que destroem plantações e envenenam rios, transformando solos férteis em paisagens áridas e contaminadas.

“A volúpia de possuir é uma praga que devora os homens como a ferrugem devora o ferro.”

Victor Hugo


O fenômeno não é isolado. O setor de cacau, essencial para a economia de Gana, está sendo minado por uma conjunção de fatores: políticas públicas ineficientes, corrupção sistêmica e um mercado global desigual. O governo, enquanto alega combater os garimpeiros ilegais, reluta em conceder melhores condições aos agricultores. Sem incentivo para continuar cultivando cacau, os trabalhadores rurais encontram no ouro uma saída mais lucrativa e imediata – ainda que destruidora a longo prazo.


As imagens são brutais: terras devastadas, crianças trabalhando em escavações clandestinas e comunidades inteiras mergulhadas em um ciclo de degradação ambiental e social. Enquanto os mineradores ilegais enriquecem rapidamente, os agricultores, já empobrecidos, são forçados a abandonar sua única fonte de sustento. E a ironia cruel é que o chocolate, símbolo de prazer e sofisticação no mundo, tem em sua base um cenário de desespero e devastação.

Ghana. 2025. Imagem produzida por  IA


Mas e se houvesse uma alternativa? O problema não está apenas no ouro ou no cacau, mas na estrutura que os coloca em lados opostos. Se os agricultores fossem remunerados de forma justa e incentivados a manter suas terras produtivas, o dilema entre cacau e ouro deixaria de existir. Se os governos africanos enfrentassem a corrupção e investissem no desenvolvimento sustentável, o garimpo ilegal perderia seu apelo. O mundo precisa decidir se deseja continuar pagando por chocolate com o preço da destruição – ou se está disposto a mudar essa narrativa.

Financial Times | 7.Mar.2025

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