O rio que chove lágrimas da terra,
ergue do chão pranto adormecido;
na luz, evapora o dorido gemido
que à noite volta e a chuva encerra.
Cada gota é lembrança que se enterra,
eco da vida em ciclo repetido;
o céu, de sombra lume dividido,
bebe do rio o sal da antiga guerra.
E o homem, que se crê senhor do mundo,
não vê que a água guarda o seu pecado,
reflexo puro e espelho profundo.
No Guamá, tudo volta ao principiado:
chove no céu, no corpo e no segundo
em que o tempo se faz eternizado.
Casa das 11 janelas, na mesa de Saulo na frente do Rio Guamá
Guamá (s.m.) —
Do tupi antigo, “gua” (água, rio) + “ma” (chover, derramar-se do céu).
Diz-se do rio que não espera a chuva: ele próprio chove.
Nome dado à corrente que recolhe do chão as lágrimas do céu e as devolve ao coração da terra.
Guamá é mais que um rio — é o gesto líquido da memória.
Nele, o tempo se dissolve em água morna, e o mundo aprende o verbo de nascer outra vez.
Quando se pronuncia Guamá, o ar se curva — e é como se a língua chovesse.

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