O belo não nasce com forma, é como a memória de um passeio que atravessa a tarde e a areia da praia sem deixar pegadas.
Para quase todos nós, o belo só consgeue existir quando ocupa um espaço e se faz matéria — mas há quem o reconheça antes, no perfume que anuncia a flor ainda oculta, esse sussurro que soa antes da voz.
Há quase uma fé em saber reconhecer o que ainda não se mostrou. Talvez seja um instinto que nasce do silêncio. Como o pescador que sabe a maré pela dança das nuvens ou o lavrador que adivinha a chuva no cheiro da terra. Eles reconhecem o que ainda não tomou forma porque sabem ler os sinais do invisível.
Mas para muitos, o belo só é percebido como real quando se apresenta em mãos. Precisam tocar, pesar, contar. Como se a beleza precisasse de contornos para ser verdadeira, como se só existisse no concreto.
É por isso que tantas sementes são esquecidas antes de germinar, porque ninguém pode lhes reconhecer o potencial enquanto são apenas grãos.
Pode o segredo estar em cultivar o invisível. Cuidar do que ainda não é, e possa ser.
(Tudo pode?)
São gestos simples, regar o chão antes do verde ou soprar as brasas antes da chama.
(Tudo é?)
O belo não precisa de forma para existir. Basta um olhar que o reconheça no que ainda está por vir
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