30 anos depois Pequim. Um Grito Contra o Tempo

Era para ser um dia de celebração. No horizonte do calendário, o oito de março acende-se como um farol, e sob ele se ergue um brado: “Para todas as mulheres e meninas: Direitos. Igualdade. Empoderamento.” Palavras que brilham como ouro sob o sol, mas que, ao toque, tantas vezes se desmancham em poeira.


O ano de 2025 veste-se com promessas e memória. Traz nas mãos o peso do 30º aniversário da Declaração de Pequim, um documento que um dia desenhou um mundo possível para as mulheres, um mapa em que cada linha traçava direitos incontestáveis — ou pelo menos assim se sonhou. Três décadas depois, a paisagem é de avanços e escombros. Mulheres pisam onde antes não podiam, falam onde antes se calavam, votam, governam, escrevem suas próprias leis. Mas ao mesmo tempo, a sombra do retrocesso estende-se como uma noite que não termina.

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos.”

Eleanor Roosevelt

Em muitos lugares, a violência continua a ser a primeira língua falada com as mulheres. Os números são frios e implacáveis: 612 milhões de mulheres e meninas vivem em territórios de conflito, e em cada uma delas reside uma história que poderia ser outra. Em cada jovem que não aprende, em cada voz que se cala, em cada corpo que sofre sem justiça, Pequim se torna uma promessa adiada.

Dizem que há progresso. Há leis novas, há mulheres ocupando assentos antes inalcançáveis, há palavras que já não são sussurros, mas bandeiras erguidas. E, no entanto, a estrutura do mundo resiste. Há resistências silenciosas, há retrocessos camuflados de tradição, há promessas que são feitas com a boca enquanto as mãos as desmancham.

O que significa, então, declarar este O Ano de Todas as Mulheres e Meninas? Será um marco ou um mero retrato empoeirado na parede de um edifício que continua a tremer? Se há algo que a história ensina, é que o tempo não avança sozinho. É empurrado, empurrado pelos gestos, pela coragem, pelo incômodo de quem não aceita que a promessa fique para depois.

A pergunta não é o que Pequim fez. A pergunta é: o que faremos com Pequim agora?


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