Na dor sempre procuramos sínteses, elas nos ajudam a encarar o luto e a seguir em frente. Hoje o professor Danilo Santos de Miranda diretor do SESC São Paulo morreu. O mundo está muito mais pobre. Dói.
No passado 14 de julho, Danilo Miranda, visitou em Portugal, enérgico e feliz, a nossa Casa da cidadania da língua, em Coimbra; e nesse dia lindo e memorável muito falámos dos sonhos, fortes e lúcidos: é sempre preciso melhorar a vida das pessoas. Me falou que talvez ainda viesse à inauguração da casa.
E é agora, em minha inesperada e perplexa dor, que uma síntese me chega. Vem nas memórias que partilhei com ele, todas felizes, todas contrariando a própria dor; todas feitas de futuro e liberdade.
Invejava com bondade atenta os que o conheceram de perto, todos diziam sempre que era um enorme privilégio terem podido partilhar a vida com ele. Todos sem exceção, quem conheci dentro e o fora SESC SP.
Eu, português que ama o Brasil e especialmente São Paulo, cidade a que chamo de minha, conheci o Danilo por conta de uma ideia também feita de liberdade e literatura, há dois anos atrás: o projeto 200 anos, 200 livros.
Lembro-me da primeira que falámos, no escritório dele no Belenzinho. Disse-me o que pensava da língua portuguesa, da Europa e do amor que tinha a Portugal e a Lisboa onde mora a sua filha. Mas sobretudo disse-me o que pensava dad pessoas que ousavam ter ideias e tinham coragem para fazer coisas diferentes.
Falamos daquela lista de livros e de como ela convocava discussões sobre um Brasil que se começava a descobrir. O Brasil dele, da igualdade e da reparação que hoje ganha definitiva existência. Criámos as perguntas sobre o Brasil que duram até hoje.
Convidei-o para visitar Coimbra e ele foi. Na biblioteca joanina falamos de história e na então futura Casa da Cidadania da Língua falámos de futuro. Dessa cidadania nova que hoje nos atropela em todas as geografias e que em tempos de guerra precisa de ainda maiores atenção e cuidados.
Com a força da sua experiência, Danilo ensinou-me a ter de novo esperança, quando eu já quase desacreditava que podia ser viável ter uma vida dedicada à cultura. Mas a sua bondade, pragmática e acho que infinita, iluminou de novo o meu caminho.
Obrigado Danilo. Afinal também mudaste a minha vida.
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