Portugal se apresenta cada vez mais como um Estado brasileiro na Europa

Hoje os sinais são fortes como os fatos. A história se desenha em frente de nossos olhos, e aquilo que era a intuição de poucos é hoje certeza e vontade de muitos. Viver em Portugal está no topo da lista dos desejos de cada vez mais brasileiros.

Faça a experiência. Perdendo-se pelas ruas de São Paulo, no Uber, em mercados, teatros, jardins, academias e restaurantes, não importa de que sofisticação ou preço, da Mooca à Faria Lima, popular ou elitizado, sinta a reação ao nome “Portugal”. Ela se alterou substantivamente nos últimos anos.

Onde antes existia desconhecimento (ou mesmo vazio), hoje existe um desejo afável de proximidade que se expressa, às vezes nervosa-miudinhamente, em manifestações de carinho que vão se organizando à volta de uma ideia que, cada vez mais, todos sentem como normal —ir morar em Portugal.

Logo o sentimento das ruas se consolida. Nas buscas no Google, nas redes sociais, nas estatísticas oficiais e —novidade maior— até na produção legislativa, tendo o governo de Lisboa acabado de criar um instrumento migratório inovador. Um novo visto, com a duração de 180 dias, é destinado exclusivamente a que, falantes de português, procurem —e encontrem— trabalho em Portugal.

Junta-se a fome com a vontade de comer, como se diz lá na terrinha, porque as razões de tanta pressa são prosaicas e ponderosas e não estão se prendendo apenas com os romantismos do bicentenário da independência; a descoberta de um ancestral avô nascido em Coimbra; nas inesperadas transumâncias do coração de D. Pedro ou ainda da súbita vontade de dizer “eu amo Portugal”.

O país luso está envelhecendo inexoravelmente e sem “a gente” vai morrer. Há 40 anos que a sociedade portuguesa vive abaixo da marca de reposição das gerações —que é de 2,1 filhos por mulher fértil—, girando atualmente em torno de 1,4 (em 2019), o que tem causado sucessivas diminuições da população.

Com as projeções mais pessimistas apontando para uma queda demográfica de nível catastrófico, Portugal “se vira” olhando com desejo para seus irmãos brasileiros do Hemisfério Sul, no momento feliz em que, por muitas razões sociais e econômicas de que falaremos oportunamente em esta coluna que hoje inaugura, o Brasil também está olhando com interesse estratégico para os irmãos da Europa.

Portugal precisa de boa imigração e de investimento, e o Brasil precisa de uma porta de entrada para um mercado europeu. O premiê português sabe disso e vai lutar em Bruxelas por um regime especial de cidadania para os cidadãos dos países de língua portuguesa. Será a primeira “cidadania da língua” na história universal.


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