Redução ao absurdo

O exame de matemática deixar de ser obrigatório para alunos de ciências é mais ou menos a mesma coisa que o português passar a ser facultativo para os estudantes de filosofia


As mudanças da educação nunca deixam de surpreender e a última, ameaça ser a gota d’água capaz submergir o navio que já flutua perigosamente perto do abismo.

E que absurdo nos traz o vento desta vez? O exame de matemática, musa de exatidão e racionalidade, agora é considerada “opcional” para os alunos de ciências. Seria um devaneio burocrático igualmente inusitado, a possibilidade de tornar o estudo da língua portuguesa facultativo para os aspirantes a filósofos.

Aqueles que concebem tal aberração têm, com certeza, a visão embaciada por um véu de simplismo. Acreditam, talvez, que cada disciplina acadêmica vive numa bolha autônoma, com pouco ou nada a ver com seus vizinhos no grande caleidoscópio do conhecimento. Mas quem, em pleno juízo, pode negar que a matemática é a linguagem das ciências, e que o português é a matéria prima da filosofia?

O universo é feito de padrões e proporções. Das espirais galácticas ao DNA que compõe nossos corpos, tudo obedece à lógica da matemática. Como podem os futuros cientistas compreenderem plenamente tais maravilhas sem a ajuda desta nobre ciência? Sem a matemática, eles terão as ferramentas para desenhar o arcabouço de suas teorias, mas não as chaves para abrir as portas da realidade que elas tentam descrever.

Por outro lado, consideremos a filosofia. Desde Sócrates até os pensadores contemporâneos, todos os grandes filósofos sabem que uma ideia é tão boa quanto sua expressão. Sem a arte das palavras, uma ideia brilhante se torna uma joia sem brilho, uma flor sem cor. O português, para os filósofos, não é apenas uma disciplina, mas a tinta com que pintam o mundo de pensamentos.

Se tornassemos estas disciplinas opcionais, nós não apenas enfraquecemos a educação de nossos jovens, mas também alimentamos uma atitude perigosa. Esta mudança não é apenas um golpe para a qualidade, mas também um brinde à mediocridade. Ao nivelar por baixo, nós não apenas diminuímos a competitividade de Portugal, mas também desvalorizamos o valor inestimável da excelência.

Em vez de elevar nossos padrões, optamos por descer ao nível mais baixo. Em vez de desafiar nossos jovens a alcançar as estrelas, preferimos mantê-los no solo. Não é este o tipo de mensagem que queremos enviar aos arquitetos do futuro.

A educação é a base de uma nação. Se continuarmos a degradá-la, estaremos cavando nosso próprio buraco. E enquanto o navio afunda cada vez mais, nos perguntamos: até onde estamos dispostos a ir nessa corrida para o fundo?

Esta é a verdade que precisamos enfrentar. E, acreditem, nenhuma matemática é necessária para calcular a gravidade desta situação, e nenhum domínio do português é necessário para expressar a urgência de mudar nosso curso.

Se a ideia é demonstrar o futuro reduzindo-o ao absurdo. Nil obstat


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