Ah, as tarifas! Essas figurinhas carimbadas do grande álbum da picuinha internacional. Estados Unidos e Europa estão brincando de pingue-pongue alfandegário de novo, e o placar tá assim: de um lado, Donald Trump ameaçando aço e alumínio; do outro, a União Europeia afiando a retaliação contra bourbon, jeans e motocicletas Harley-Davidson. Um contra-ataque cheio de personalidade — e álcool.
Agora, veja bem: não é que os europeus gostem de brigar. O problema é que, quando alguém chega chutando a porta e gritando “meus produtos, minhas regras!”, ninguém quer ficar segurando o abajur na sala. Então, em vez de mandar flores e um vinho francês para negociar, Bruxelas preferiu pegar a tesoura e recortar os laços comerciais.
Millôr Fernandes
“Em economia, como na vida, tudo que sobe, desce. Principalmente o que sobe demais.”
A ironia? Trump acha que tarifa protege emprego, mas o que cresce mesmo é o preço do aço, o custo das fábricas e a inflação — um efeito tão previsível quanto a cerveja choca no final do churrasco. O próprio ministro da Economia da África do Sul já avisou: esse tipo de guerra tarifária só serve pra levar o PIB pro pronto-socorro.
E o que a Europa faz? Entra no mesmo jogo. Porque, claro, se um lado decide jogar pedra, o outro responde com tijolo. A lógica aqui é simples: todo mundo sai machucado, mas, pelo menos, ninguém se sente trouxa.
A grande verdade é que, no fundo, ninguém quer essa guerra comercial. Mas, como nos almoços de família, às vezes um tio levanta a voz, outro rebate, e pronto: estão todos discutindo quem comprou a carne do churrasco, esquecendo que o importante mesmo é não deixar queimar.
Bruxelas podia ser mais esperta. Em vez de revidar com tarifas, podia fazer o que a vovó sempre ensinou: sorrir, fingir que entendeu a piada ruim e vender seus produtos para outros amigos menos briguentos. Mas, pelo visto, a elegância diplomática anda tão fora de moda quanto telefone fixo.
Então, preparem-se: vem aí mais um capítulo da novela “Eu taxo, tu taxas, ele falha”. E, como toda novela que se preze, sabemos como acaba: todo mundo brigando, ninguém feliz, e no fim, o mercado manda o recado: não tem tarifa que segure o bom senso.

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