Foi numa tarde de julho quente. Corria o ano de 2003 e nesse dia eu ia ser pai pela segunda vez. Uma vez repetida, mas que seria para sempre a primeira.
Nascias pequenina como um novelo de lã, num parto muito breve, pouco depois das 5. Foi a primeira vez que fui pai de uma mulher. Foi como nascer de novo.
Por algum motivo que ainda não sei soletrar, até à data em que a ecografia do Dr. Loureiro te disse mulher, sempre pensei que todos os meus filhos iam ser homens. Provavelmente porque nunca aprendi em pequeno a alegria de uma irmã e fomos só homens na descendência de meus pais.
Foi por isso histórico esse dia em que chegaste ao mundo para nos amarmos. E eu nem suspeitava que iria aprender contigo coisas com que nunca sonhei.
Chamámos-te Carolina porque eu e a tua mãe gostávamos muito e começava por C, o que faria com que o teu nome antecedesse no alfabeto a graça do teu irmão homem.
No último ano, vivemos juntos só os dois.
O mano foi viver sozinho para outro país. Foi diferente. Mas foi um ano extraordinário.
Criámos um código de honra, a que chamámos “Código amor pai filha”. É um acordo juramentado que consiste numa regra muito simples: dizer sempre a verdade um ao outro. Mas que na verdade é muito mais que isso.
É com ele que partilhamos as nossas vidas. É ele que nos dá força para eu entender a tua crescente autonomia, e tu aturares a resiliência hipercriativa com que me alimento diariamente.
Mas nem é isso o melhor. O melhor, é descobrir como amiga a mulher que eduquei desde o novelo e que desejei ainda antes de ser uma ideia.
Mas nem é isso o melhor. O melhor, é descobrir como amiga a mulher que eduquei desde o novelo e que desejei ainda antes de ser uma ideia.
O melhor é descobrir em ti a igualdade e o futuro. Aprender contigo o dia de amanhã. Aprender que os dias do mês são todos diferentes. Que há ciclos onde antes eu só via retas. Que há demora e tempo onde antes só havia pressa. Que há amor infinito a cada passeio da Lua.
É contigo que aprendo o que ser mulher significa. Antes não sabia nada.
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