Gouveia e Melo para principiantes

Henrique Gouveia e Melo é uma das figuras mais emblemáticas da recente vida pública portuguesa, representando um novo arquétipo de liderança nascida da confluência entre o rigor militar, a comunicação eficaz e a ressonância popular.

Almirante da Marinha e antigo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), notabilizou-se como o rosto operacional da campanha de vacinação contra a covid-19 em Portugal, período em que conquistou a confiança da população não apenas pela competência técnica, mas por uma postura austera, direta e visualmente marcante — sempre envergando o uniforme camuflado das Forças Armadas, símbolo de uma “guerra ao vírus”.

Filho de um moderado da área socialista, com um tio que foi comunista e outro que tomou posse como governador de Moçambique em nome da ditadura, Gouveia e Melo encarna as contradições e complexidades de uma família com raízes coloniais e uma vivência marcada pela descolonização, o trauma de África e o exílio em Portugal. Formado pela Escola Naval, tornou-se uma lenda da esquadrilha de submarinos, acumulando mais de 20 mil horas submerso em imersões contínuas, o que forjou um caráter avesso ao exibicionismo, mas profundamente disciplinado. Essa trajetória subterrânea moldou um líder que valoriza a hierarquia, a eficácia e a resiliência — características que transpareceram na sua atuação pública.

A sua entrada no debate político ocorre num momento de fragmentação partidária e desilusão com a classe política tradicional. Embora sem histórico de militância, Gouveia e Melo apresenta-se como uma figura com “missão”, mais cívica do que ideológica, posicionando-se como alternativa ao que chama de “guerras de narrativas”. Diz não querer partidos atrás de si, nem se submeter às lógicas dos aparelhos. O seu discurso conjuga meritocracia, patriotismo, desconfiança em relação ao “laxismo” e uma promessa de liderança técnica e incorruptível. Não deixa, no entanto, de suscitar inquietações: o regresso de um militar à política, mesmo em tempos democráticos, remete a memórias históricas de autoritarismo e suscita o debate sobre o lugar das Forças Armadas na vida civil.

Com o apoio tácito de setores populares, reconhecido por políticos de diferentes quadrantes e já testado pela exposição mediática, Gouveia e Melo apresenta-se como o primeiro candidato assumido à presidência da República para 2026 com reais possibilidades de vitória. Representa, para muitos, o desejo de ordem em tempos de incerteza. Mas a sua candidatura também revela o risco de a esperança ser depositada num salvador técnico, sem clareza programática e sem confronto claro com as armadilhas do populismo institucional.

pública portuguesa, representando um novo arquétipo de liderança nascida da confluência entre o rigor militar, a comunicação eficaz e a ressonância popular. Almirante da Marinha e antigo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), notabilizou-se como o rosto operacional da campanha de vacinação contra a covid-19 em Portugal, período em que conquistou a confiança da população não apenas pela competência técnica, mas por uma postura austera, direta e visualmente marcante — sempre envergando o uniforme camuflado das Forças Armadas, símbolo de uma “guerra ao vírus”.

Filho de um moderado da área socialista, com um tio que foi comunista e outro que tomou posse como governador de Moçambique em nome da ditadura, Gouveia e Melo encarna as contradições e complexidades de uma família com raízes coloniais e uma vivência marcada pela descolonização, o trauma de África e o exílio em Portugal. Formado pela Escola Naval, tornou-se uma lenda da esquadrilha de submarinos, acumulando mais de 20 mil horas submerso em imersões contínuas, o que forjou um caráter avesso ao exibicionismo, mas profundamente disciplinado. Essa trajetória subterrânea moldou um líder que valoriza a hierarquia, a eficácia e a resiliência — características que transpareceram na sua atuação pública.

A sua entrada no debate político ocorre num momento de fragmentação partidária e desilusão com a classe política tradicional. Embora sem histórico de militância, Gouveia e Melo apresenta-se como uma figura com “missão”, mais cívica do que ideológica, posicionando-se como alternativa ao que chama de “guerras de narrativas”. Diz não querer partidos atrás de si, nem se submeter às lógicas dos aparelhos. O seu discurso conjuga meritocracia, patriotismo, desconfiança em relação ao “laxismo” e uma promessa de liderança técnica e incorruptível. Não deixa, no entanto, de suscitar inquietações: o regresso de um militar à política, mesmo em tempos democráticos, remete a memórias históricas de autoritarismo e suscita o debate sobre o lugar das Forças Armadas na vida civil.

Com o apoio tácito de setores populares, reconhecido por políticos de diferentes quadrantes e já testado pela exposição mediática, Gouveia e Melo apresenta-se como o primeiro candidato assumido à presidência da República para 2026 com reais possibilidades de vitória. Representa, para muitos, o desejo de ordem em tempos de incerteza. Mas a sua candidatura também revela o risco de a esperança ser depositada num salvador técnico, sem clareza programática e sem confronto claro com as armadilhas do populismo institucional.

Expresso | 29.maio.2025

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