O concerto de celebração dos 200 anos da criação do Senado foi um hino à democracia e à liberdade
[excertos]
É quando a mão direita enluvada a negro do maestro João Carlos Martins toca as teclas do piano e delas tira o som que enche a sala, que o coração quase para, o respirar quase pausa e o amor quase se vê. Deve ser isso o que sentem apóstolos e mártires na presença iminente de milagres.
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É preciso dizê-lo: milagres assim precisam-se cada vez mais. Ou não seja verdade que neste mesmo dia em que o João Carlos Martins nos mostrava a beleza e a alegria simples da criação, em Portugal a ultra-extrema-direita, sem outra ideologia que semear confusão,
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Sobre milagres, li, não me lembro em que breviário, que a coisa comum que os define — caso realmente existam — é à primeira vista nunca parecerem sê-lo. Antes, se confundem com excentricidade ou loucura, próprias de quem se alienou da sociedade e já nada lhe pode acrescentar.
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Deve ter sido isso que todos pensaram quando em França no ano da revolução, uns quantos sans coulottes gritaram “liberté, egalité, fraternité”