A nova guerra fria não é travada com tanques, mas com narrativas. Enquanto os EUA enfrentam a turbulência de Trump 2.0, a Rússia alimenta conspirações que misturam ficção e paranoia, sugerindo que o governo Biden orquestrou um atentado contra Trump.
A estratégia de Moscovo não é apenas semear o caos, mas transformar a desconfiança interna dos americanos em uma arma política. A pergunta que fica é: quem realmente está escrevendo o roteiro da democracia americana?
Karl Marx
“A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”
Os ecos de Moscou voltam a ressoar em Washington. Desde a eleição de 2024, a Rússia tem alimentado uma obsessão por narrativas conspiratórias que envolvem a tentativa de assassinato de Donald Trump e a suposta infiltração do governo dos EUA por forças “secretas”. A mais recente teoria, promovida pelo senador russo Pushkov, detalha um plano mirabolante em que funcionários da administração Biden, governadores democratas e até o chefe do FBI estariam orquestrando um atentado contra Trump. Embora absurdas, essas narrativas cumprem um papel estratégico: semear a desconfiança e ampliar as fissuras na sociedade americana.
O fenômeno não é novo. Desde a Guerra Fria, a desinformação russa se baseia na criação de versões alternativas da realidade para desestabilizar governos estrangeiros. A diferença é que, hoje, Moscou conta com aliados internos nos EUA. As redes sociais amplificam essas teorias, e figuras da extrema direita americana, incluindo o próprio Trump e Elon Musk, ajudam a validar a ideia de que o “Estado profundo” conspira contra o povo. A ironia é que essas alegações, enquanto fortalecem a paranoia de Trumpistas, também servem aos interesses estratégicos de Putin, que se beneficia do enfraquecimento das instituições democráticas nos Estados Unidos.
Se a história se repete, a pergunta que resta é: a tragédia ainda está por vir, ou já vivemos sua farsa?
No tabuleiro geopolítico, a desinformação não opera isoladamente. Paralelamente à conspiração sobre o suposto atentado contra Trump, a Rússia exige que o Congresso dos EUA revele a identidade de pessoas e organizações que receberam financiamento da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). A justificativa? Entregar a lista ao FSB, a temida agência de segurança russa. O ataque à USAID não é acidental. Moscou vê a agência como uma ameaça porque ela financia projetos de combate à corrupção e defesa da democracia, pilares que desafiam a autocracia de Putin.
Enquanto os EUA enfrentam um novo ciclo eleitoral, a guerra de narrativas se intensifica. O perigo não está apenas nas mentiras russas, mas na disposição de setores políticos americanos em aceitá-las e amplificá-las. Moscou não precisa mais plantar desinformação – basta cultivar a paranoia já existente dentro dos próprios Estados Unidos.
Se a história se repete, a pergunta que resta é: a tragédia ainda está por vir, ou já vivemos sua farsa?
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