Voltou com terno novo e o mesmo olhar de antes: aquele brilho febril dos que apostam tudo em promessas digitais. Ele se apresenta como inovação, mas tem as digitais do colapso de 2022 marcadas no fundo dos olhos. Hoje, ergue a taça de $4 trilhões como quem nunca teve medo do fracasso. E, desta vez, não veio sozinho — trouxe a Casa Branca no bolso e Wall Street na outra mão.
O personagem é o velho mágico do mercado financeiro, reencarnado sob o disfarce de um ativo descentralizado. Há dois anos, caiu do palco diante de um público estarrecido quando a FTX ruía e o Bitcoin despencava para $16 mil. Mas não demorou para voltar. Aprendeu novos truques: desta vez, o espetáculo é legalizado, as luzes vêm do Congresso e o aplauso é bipartidário.
“O dinheiro é um excelente servo, mas um péssimo mestre.”
Francis Bacon
Com a aprovação do Genius Act e o apoio fervoroso de Donald Trump, o mágico virou patriota. Promete agora estabilidade, crescimento e até aposentadoria digna — com criptomoedas em fundos previdenciários. Os maiores bancos já ensaiam suas stablecoins. É a revolução blockchain de paletó e gravata, acolhida por quem antes a temia.
Mas esse encantador de cifras não mudou tanto assim. Sua retórica é velha conhecida: “desta vez é diferente”, dizem os que o seguem. A promessa de descentralização desaparece na medida em que os gigantes do sistema financeiro tomam as rédeas do mercado cripto. Os mesmos que outrora diziam que Bitcoin era uma farsa, agora o chamam de oportunidade estratégica.
O personagem que nos visita carrega contradições que só os muito ricos podem sustentar: é rebelde e banqueiro, é contra o sistema e seu mais novo sócio. Flerta com a liberdade enquanto amarra o futuro de milhões a um mercado notoriamente volátil. E quando os críticos, como Elizabeth Warren, alertam que o novo ato carece de salvaguardas mínimas, ele ri, aponta para os gráficos em alta e pergunta: “Mas você já viu quanto valorizou esta semana?”
Quem aplaude talvez tenha esquecido que toda mágica exige uma ilusão. Os trilhões de hoje não são garantias de amanhã. O velho feiticeiro pode até usar capa nova, mas sua essência continua sendo a mesma: prometer o impossível até que o chão desapareça debaixo dos pés.

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