O José Pinho, fundador da Livraria de Fundos, sonhador da Ler Devagar, criador de 1000 sonhos e bibliotecas, morreu. Guardava em si o mesmo fascínio da Tabacaria de Pessoa: nele cabiam todos os sonhos do mundo.
Entre amigos, todos nós dizíamos que o Zé era maluco, capaz de aceitar todos os projetos, acreditando sempre que o impossível era possível. E era. Não tinha material genético para dizer não a qualquer boa ideia que lhe aparecesse.
Fumante de todos os tabacos, bebedor de todos os licores, um dia, num café à entrada de Óbidos, onde o Zé matava as irritações que tinha com a organização — ao mesmo tempo que ressuscitava todas as alegrias do mundo, disse-me assim: “O que é preciso é fazer, o resto não interessa, o que é preciso fazer”.
A última vez que o encontrei foi no Espaço Talante, no primeiro andar da livraria Ler Devagar, no LX Factory em Lisboa, entregue ao ator, pensador e grande amigo brasileiro António Grassi.
Tiramos uma fotografia, uma selfie, olhando os três para cima. Foi a primeira fotografia que tirei com o António e a última que tirei com o Zé, foi no mês passado e não a quis publicar em lado nenhum. Talvez porque ela me fizesse lembrar o que sinto hoje. E não queria.
Quando soube que tu morreste”, disse-me o Afonso Borges no grupo “Literatura e Liberdade” onde, no WhatsApp, gente como nós fala do passado e do futuro como se não existisse amanhã, chorei muito, mas fiquei aliviado porque o teu sofrimento terreno acabou.
Tu estás no amanhã eterno. Já sabes como é, ponto. Mas a m**** toda é que tu foste mesmo embora e nós precisávamos de mais três vidas para pôr a escrita em dia, visitar o teu centro cultural novo que hás-de inaugurar no paraíso.
Agora, o mais justo é que todas as ruas de Óbidos, durante um tempo, se chamem todas José Pinho. E que daí para a frente, só possas viver nos nossos corações.
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