“O Porto é uma nação.” — Esta frase, repetida com orgulho pelos portuenses, não é mero exagero. Para eles há cidades bonitas, há cidades grandiosas, e há o Porto — uma cidade que se ergue não apenas sobre pedra e rio, mas sobre caráter. Se outra tem o fado, o Porto tem a alma.
O Porto não precisa de apresentações floreadas. Quem chega, sente-o na pele. A neblina sobre o Douro ao amanhecer, os gritos de “Foge cão, que te fazem barão” entre as vielas da Ribeira, o tilintar dos copos de vinho do Porto em Gaia, o cheiro do café forte nas mesas de toalha de papel. Aqui, a cidade não se vê apenas: sente-se. É a cidade que se recusa a ser indiferente, que desafia, que acolhe, que se entrega.
Os portuenses são gente de fibra, de trabalho, de generosidade silenciosa. São os que não desviam o olhar quando cumprimentam, os que abrem a porta de casa como se fosse um direito de quem chega, os que torcem pelo Porto — pelo clube e pela cidade — com a mesma intensidade com que defendem a sua identidade. Aqui, o amor pela terra não é um detalhe. É um pacto. Um compromisso entre a cidade e o seu povo, um acordo silencioso passado de geração em geração.
O Porto não se enfeita para impressionar, não se dobra ao gosto alheio, não precisa de ornamentos para provar a sua grandeza. Está nos becos da Sé, nos socalcos de Gaia, no ferro rendilhado da Ponte Dom Luís I, nas histórias sussurradas pelos Clérigos, no bulício das Galerias de Paris ao anoitecer. A grandeza do Porto não é apenas histórica ou arquitetónica — é visceral.
E talvez seja esse o segredo. O Porto não tenta ser amado. Mas quem o conhece, nunca mais o esquece.

Comente