O mais perigoso sintoma do nosso tempo não é a estupidez, mas a inteligência automatizada com credencial de genialidade.
A sátira publicada pelo Financial Times — trocas de mensagens entre consultores rendidos ao ChatGPT — é uma comédia involuntária sobre o fim do pensamento original entre adultos muito bem pagos.
Eles pedem ao robô que prepare briefings, reformule apresentações, invente piadas, corrija estilo, mastigue documentos, adivinhe fontes e até “melhore o que o Guardian escreveu”.
Com o mesmo entusiasmo com que se programa uma cafeteira, os profissionais da comunicação política britânica parecem ter resolvido terceirizar também o raciocínio.
Rimos porque reconhecemos o tipo: o consultor viciado em atalhos, o político que aprova o slide sem ler, o assessor que transforma um erro em inovação.
O que essa sátira cala, porém, é ainda mais interessante do que o que escancara. Ninguém ali se pergunta se está fazendo jornalismo, propaganda ou consultoria divina. A única preocupação é se o texto final vai “passar pelo editor”.
Se a IA disser que o Henry Muck de Industry é um político real, tudo bem — desde que esteja bem formatado no PowerPoint.
A sátira funciona porque é verdadeira demais. Rimos porque reconhecemos o tipo: o consultor viciado em atalhos, o político que aprova o slide sem ler, o assessor que transforma um erro em inovação.
E rimos também porque dói. Dói ver que as reuniões de cúpula, os planos de reforma previdenciária e as comunicações de governo estão sendo escritas por um robô que confunde uma viúva escocesa com uma companhia de seguros — e ninguém vê problema nisso.
A nova regra parece ser clara: se o texto soa confiante, ele está certo. Se estiver errado, culpe a máquina. E se for absurdo, chame de disrupção.
A inteligência artificial não vai matar o pensamento humano. Vai apenas convencê-lo de que pensar é opcional — e que custa caro demais.
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