Se, um festival, numa cidade, feita de primavera

Em uma futura manhã de outono o perfeito de Itabira tinha-se preparado para inaugurar Pessoa. Penso em outro Borges, Afonso, para poder pensar. Era assim i sonho.

As ruas, vestidas com as cores do céu e da terra, pareciam sussurrar versos ao vento, antecipando o encontro das duas almas poéticas que a língua unia: Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade.

Na casa de Drummond, celestial de azul, pura de branco, havia um coração pulsante de palavras.

Suas janelas, outrora testemunhas silenciosas do genial poeta mineiro, agora abriam-se para acolher a essência de Pessoa, cujas palavras viajaram além do oceano para se fazerem presentes.

No largo principal, uma multidão reunia-se, unida pela expectativa e pelo amor à literatura. Jovens e idosos, estudantes e professores, todos com olhos brilhantes, prontos para mergulhar no universo de dois dos maiores ícones da poesia de língua portuguesa.

Na abertura uma dramatização de “O Marinheiro”, peça de Pessoa, realizada sob a sombra da igreja matriz. Os atores, com suas vozes embaladas pela melancolia do texto, transportaram o público para um mundo de sonhos e reflexões.

Nas oficinas de escrita, aspirantes a poetas debatiam heterônimos com introspecção drummondiana, explorando as infinitas possibilidades de cada palavra dita. Em cada rosto, via-se um brilho de descoberta, um despertar para novas formas de expressão.

Um dos momentos mais aguardados foi o debate dos acadêmicos. Entre a alma de Drummond e Pessoa, a universalidade e a atemporalidade de suas obras. As palavras dos poetas reverberavam nas paredes da casa, como se os próprios estivessem ali, dialogando através dos tempos.

Ao entardecer, o tempo ganhou um tom mais íntimo. Em um recital de poesia, versos de “Tabacaria” e “A Máquina do Mundo” ecoavam pelas ruas de Itabira, criando um laço invisível entre os presentes. A emoção era palpável; em cada verso, um pedaço de alma era compartilhado.

O Festival Pessoa não foi apenas um evento literário; foi um encontro de culturas, de idiomas, de corações. Itabira, por alguns dias mágicos, transformou-se em um portal para o mundo de Pessoa e Drummond, unindo-os num diálogo etéreo e profundo.

Quando finamente a noite tombou sobre Itabira, uma certeza permanecia: as palavras de Pessoa e Drummond, como rios que se encontram no mar, continuariam a fluir, eternas, no coração de cada um que ali esteve, perpetuando o legado desses gigantes da literatura.

Na noite, sob o manto estrelado que testemunhava o momento ultimo, uma verdade imortal se revelava: as palavras de Pessoa e Drummond, como rios que se fundem no oceano, seguiriam fluindo, perenes, nos corações daqueles que ali estiveram, eternizando o legado desses colossos da literatura.


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