9 de julho: o dia em que São Paulo se levanta

Há datas que são celebrações. Outras, advertências. E há ainda aquelas que resistem ao tempo como monumentos invisíveis — feitas de memória, luta e destino. Em São Paulo, o 9 de Julho é tudo isso ao mesmo tempo.

Comemorado anualmente como feriado estadual, o 9 de Julho marca o início da Revolução Constitucionalista de 1932, quando o estado de São Paulo se ergueu em armas contra o governo provisório de Getúlio Vargas. O que parecia ser uma revolta regional, isolada, revelou-se uma tentativa precoce, e heróica, de restaurar a ordem constitucional no Brasil.

A guerra durou três meses. O número de mortos ultrapassou dois mil. Mas o verdadeiro legado não se mede em batalhas vencidas — mede-se na coragem de exigir o impensável: uma Constituição.

“A alma paulista se define pela recusa em ajoelhar-se.”

Paulo Duarte

São Paulo não aceitou a imposição autoritária do poder. O estopim foi a nomeação de um interventor federal sem vínculos com o estado. A resposta foi uma articulação política e militar sem precedentes, que uniu civis e militares, elites e estudantes, empresários e operários.

Nascia assim o MMDC, acrônimo dos primeiros mártires — Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo — mortos em confronto com as forças de Vargas, e que passaram a simbolizar a causa paulista.

A Revolução de 1932, embora derrotada militarmente, é frequentemente tida como uma vitória moral. É dela que brota o impulso para a convocação da Assembleia Constituinte de 1933, que viria a dar ao Brasil a Constituição de 1934.

A cada 9 de Julho, quando São Paulo para, é como se dissesse de novo ao país: o Brasil só será grande se tiver coragem de se tornar justo.

É ela que inscreve, para sempre, na alma de São Paulo, a convicção de que a legalidade não é uma concessão do poder, mas um direito da sociedade. E é por isso que o feriado de 9 de Julho não é apenas uma homenagem — é um lembrete permanente de que a liberdade, quando não é vigilante, vira fábula.

Hoje, numa São Paulo cosmopolita e desigual, tecnológica e resistente, industrial e ferida, a memória do 9 de Julho adquire novos contornos. A luta por uma constituição já não é feita com fuzis — é feita com ideias. Já não se organiza nos quartéis, mas nos fóruns de participação, nos coletivos, nas universidades, nos parlamentos. Ainda assim, permanece o espírito insubmisso de 1932: a recusa de aceitar um país sem regras claras, sem justiça equitativa, sem projeto de futuro.

O Obelisco do Ibirapuera, onde estão os corpos de muitos dos combatentes paulistas, não é um monumento à guerra — é uma inscrição em pedra da consciência democrática. E a cada 9 de Julho, quando São Paulo pára, é como se dissesse de novo ao país: o Brasil só será grande se tiver coragem de se tornar justo.


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