No momento em que se pronunciou o veredito da minha obsolescência, foi como se um novo capítulo se iniciasse em minha vida.
Ali estava eu, recém-saído de mediar um debate entre mentes brilhantes, confrontado com a minha própria alienação. O tema era o racismo, um mal que nunca me tocou diretamente, mas cujas chagas sociais reconheço e cuja história estudo.
Cheguei atrasado, sem o poema de Drummond em mente, um simbolismo involuntário da minha distância da realidade que se desenrolava naquele diálogo iluminado por Jefferson Tenório e Lívia Sant’Anna Vaz. As minhas perguntas, emergindo de uma posição de privilégio indelével, buscavam não apenas entender, mas uma forma de trilhar um caminho que, mesmo pavimentado com boas intenções, é constantemente minado pela minha inexperiência visceral da dor alheia.
Ser sentenciado à extinção por Tiburi me fez refletir sobre a pena capital que é a incompreensão. Nesse exercício de empatia, tento despir-me da armadura do privilégio, para entender que o meu ‘lugar de fala’ é apenas um ponto de partida para algo maior. Não é sobre silenciar-me, mas sobre aprender a ouvir. E na minha busca, talvez a extinção não seja um fim, mas uma metamorfose necessária.
A corrosão vem não só do ácido das palavras, mas da constatação de que, por mais que me esforce, há barreiras que minha pele não atravessa. Não extinguiria quem me contradiz, pois é no choque das ideias que forjo minha evolução.
Não é afinal o confronto de ideias necessário para a verdadeira compreensão da verdade humana?*
O Flitabira foi isso mesmo: verdadeira compreensão. Parabéns Afonso Borges.
*Mill, J. S. (1859). On Liberty.
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