Pelo teu girar o mundo se despe,
Por teu gesso frio, o caos arrefece.
Terra em pedaços, em teus braços cai,
E o branco puro, a verdade trai.
Quebrado fica o ar que nos cria,
palavra exangue que a noite esvazia.
Em cada fissura, história se esconde,
Em cada vazio, um outro onde.
Por linhas difusas o tempo revê,
um espelho partido que no chão se rende.
É inacabada, e tudo se entende,
no lado incompleto, o completo se lê.
Um poeta mudo, perante a visão,
Sofre o pulsar de toda a criação.
Do gesso que se esfarela e molda,
Ao spleen da vida que acorda revolta.
No silêncio branco, um grito cala,
E na sombra clara que a luz embala,
o globo gira, gira e roda a girar.
Não há quietude capaz de o sarar.
E a esfera não olha, e tudo já diz,
Imóvel momento, repente, aprendiz.
E o poeta em transe, rascunho infinito,
Só quer o futuro e o verso lá escrito.