Marcos Vinicios Vilaça não morreu. Apenas atravessou uma porta que já sabia existir. Um homem que pertenceu ao Brasil e a Portugal — por obra e por mérito — não cabe em obituários, porque continua vivo na arquitetura que construiu com palavras, ideias e gestos.
Intelectual de rara estatura, pernambucano nas raízes e universal na projeção, Vilaça deixa a Academia Brasileira de Letras mais silenciosa, a Academia de Ciências de Lisboa mais solitária e a língua portuguesa mais pobre do seu encantamento — mas também mais rica do seu exemplo.
“O homem pode pôr fim à sua vida; mas não pode pôr fim à sua imortalidade”
Milan Kundera
Foi um homem de Estado, sim, mas, acima de tudo, um homem de cultura. Nas cadeiras da ABL e nos salões da memória nacional, fez da tradição uma ponte, e nunca uma âncora. Foi fiel às origens — a Nazaré da Mata natal, os laços com Pernambuco — e ao mesmo tempo discípulo da ideia de que o conhecimento e a língua não têm fronteiras.
Ao integrar instituições de peso nos dois lados do Atlântico, Vilaça mostrou que ser “de lá e de cá” é mais que um estatuto: é uma missão. Ao partir, mostra o caminho — o da lucidez, da elegância, do rigor e da entrega ao bem comum.

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