Amanhã, Donald Trump dá início a uma guerra que pode custar não só mercados, mas a própria paz — ao romper, com tarifas, os pactos que sustentaram a ordem global desde 1945.
Os Estados Unidos mantêm hoje cerca de 750 bases militares em mais de 80 países e territórios. Nenhum outro país chega perto: a soma de todas as bases estrangeiras das demais nações não ultrapassa 100. Essa presença, visível nos mapas e invisível nos acordos, tem sido o cimento da ordem global desde 1945. Mais do que uma projeção de força, ela simboliza a confiança estratégica entre os EUA e seus aliados — confiança essa que, a partir de amanhã, pode começar a ruir.
Ao tratar aliados como rivais comerciais, Washington rompe unilateralmente um pacto tácito. Não se trata apenas de tarifas. É um abalo tectônico na arquitetura estratégica do Ocidente.
No dia 2 de abril, Donald Trump ativará seu chamado “dia da libertação”: um pacote de tarifas sobre parceiros estratégicos como Canadá, México, União Europeia — mas também a China e a Índia. A medida é apresentada como um reequilíbrio comercial. Mas seus efeitos vão muito além da economia. Trata-se de um gesto de desvinculação sistêmica, um passo rumo ao desmantelamento dos mecanismos que garantiram paz e prosperidade durante 70 anos. A confiança, uma vez quebrada, não se recompõe com diplomacia acelerada.
A lógica do pós-guerra sempre foi clara: os EUA abriam seus mercados, mantinham tropas, garantiam segurança marítima e estabilidade monetária. Em troca, os aliados alinhavam-se à sua liderança. Esse equilíbrio — imperfeito, sim, mas funcional — permitiu evitar grandes guerras. Agora, ao tratar aliados como rivais comerciais, Washington rompe unilateralmente um pacto tácito. Não se trata apenas de tarifas. É um abalo tectônico na arquitetura estratégica do Ocidente.
A retórica trumpista insiste que tarifas trarão empregos de volta. Mas ao desencadear retaliações, prejudicar exportações, aumentar custos internos e minar o soft power americano, o que se inicia é um ciclo de isolamento e fragmentação. As tarifas, como instrumentos de guerra comercial, podem transformar parceiros em adversários — e mercados em campos de tensão.
Com sete vezes mais bases do que todos os outros países somados, os EUA não precisam mostrar força. Precisam demonstrar liderança. E liderança não se impõe com barreiras, mas se constrói com confiança. A partir de amanhã, o mundo começa a testar quanto dessa confiança ainda resta.

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