Eu não sou nada, mas, mas, mas, mais
tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E em cada margem de oceano
Há um grito onde te encontro.
Cruzei fronteiras, ergui bandeiras,
Na casa (da cidadania da língua) me refugiei.
No meu peito, o Brasil e Portugal,
Unidos em versos que jamais direi.
Nós somos dois, mas somos um,
Irmãos nascidos sob diferente sol.
Nós, de pele escura como a noite,
Ele, pálido como o lençol.
O homem branco vos recebeu,
Nessa casa onde a língua é pátria, não prisão.
E abraçamos o desconhecido,
Na busca da própria definição.
“Ó tabacaria do Pessoa, espelho de angústia,
Sede a lente através da qual vejo a mim mesmo.
Nas linhas do teu poema, descubro minha casa,
Nos versos, faço meu eterno regresso.”
O que somos nós, senão um encontro?
De peles, línguas, sonhos e terras.
Nesta casa de palavras partilhadas,
Apagamos, por instantes, as guerras.
E ao homem branco, dizeis agora:
“Tu que inventaste esta casa, saibas bem,
Que a língua é mais que códigos e regras,
É a alma do homem, é o seu além.”
Eu não sou nada,
Mas nesta casa de múltiplos eus,
Eu sou todos, eu sou nenhum.
Posso ser o poeta dos versos teus?
Comente