O Brasil está parado por falta de impulso interno. Investir menos que a média latino-americana e poupar menos que os países pobres é mais do que uma estatística ruim: é um alerta vermelho. A ausência de um projeto que articule política fiscal, incentivo ao investimento produtivo e estímulo à poupança, condena o país à estagnação crônica. É hora de recolocar os trilhos antes que o trem descarrile de vez.
A tentativa de combater a desigualdade por meio do consumo imediato e da expansão fiscal desorganizada está, paradoxalmente, aprofundando a desigualdade estrutural no Brasil.
Segundo o Valor Econômico Brasil investe menos que quase todos os países do mundo — apenas 16,4% do PIB em 2023 — e poupa ainda menos, 15%, segundo os dados do IBGE e do Banco Mundial. Ao mesmo tempo, ostenta uma das mais generosas políticas de transferência de renda da América Latina, com forte gasto social concentrado no consumo e não na produção. A luta contra a desigualdade, neste modelo, virou um combate de curto prazo: paga-se o presente com o futuro. Não se poupa, não se investe, não se cresce. E sem crescimento sustentado, não há redistribuição verdadeira — apenas ciclos viciosos de dependência, informalidade e precarização.
… Mas o Brasil é sempre maior que os seus diagnósticos
Claro que é moral e politicamente necessário proteger os mais vulneráveis. Mas a questão que se impõe é estratégica: como fazer isso de forma duradoura e emancipadora? O que vemos hoje é o presidencialismo de coalizão convertido em um “congressismo” imobilista, onde medidas pontuais substituem reformas estruturantes. A busca desesperada por apoio parlamentar enfraquece qualquer projeto nacional de desenvolvimento. O pacto político gira em torno do gasto e da exceção — não da construção de um Estado eficiente e de um país produtivo. A obsessão com a redistribuição imediata tem sufocado a poupança nacional, limitado o investimento público e desincentivado o investimento privado.
O Brasil precisa se reorganizar em torno de uma nova ideia de igualdade: não apenas a igualdade de consumo, mas a igualdade de oportunidade produtiva, de acesso ao crédito, à infraestrutura e ao capital de futuro. O país precisa investir, planejar e poupar — não apenas gastar melhor, mas gastar com propósito. É possível, sim, conciliar combate à desigualdade com eficiência econômica, mas para isso é preciso um novo pacto federativo, um novo horizonte de coordenação política e um novo protagonismo no Congresso. Não se trata de gastar menos, mas de gastar melhor — e de investir no Brasil que ainda está por nascer.
Mas é preciso fazer uma ressalva — o Brasil é sempre maior que os seus diagnósticos.

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