Oxalá seja assim

Hoje li a Djamila na Folha. E não consegui parar de pensar em Oxalá. A palavra é familiar para nós, europeus, mesmo que a gente não saiba exatamente de onde ela vem. “Oxalá” é aquele desejo que sussurramos, quase sem pensar: Oxalá dê certo, Oxalá aconteça.

Mas o Oxalá da Djamila não é só uma palavra bonita. É algo muito maior, mais profundo. Uma esperança que não espera – que age. E isso, para nós, pode ser um choque.

Oxalá, no candomblé, é o pai de todos os orixás. Mas, como Djamila explica, ele não carrega o peso do mundo como castigo. Ele escolhe. Escolhe suportar para equilibrar, para consertar, para criar harmonia. Você já parou para pensar nisso? Na coragem que é pegar o que está errado no mundo e decidir fazer algo com isso? Oxalá nos olha e, enquanto a gente suspira esperando o milagre, ele vai lá e faz. Mas faz com paciência, com serenidade, sem pressa de provar nada para ninguém.

E aí pensei: o que nós, aqui na Europa, sabemos de verdade sobre Oxalá? O que sabemos sobre o candomblé, a umbanda, sobre os orixás? Muito pouco, para não dizer nada. E isso é estranho, porque essas culturas carregam sabedorias que podem nos ensinar tanto sobre quem somos, sobre o que queremos ser. Mas, em vez disso, ficamos no básico, no superficial. Repetimos a palavra “Oxalá” sem nunca nos perguntarmos: porquê Oxalá? O que representa? Nem sabemos perguntar quem é…

O texto deixou-me desconfortável. Mas no bom sentido, o das borboletas. Porque Oxalá não é só esperança; é uma esperança que exige algo de nós. Não dá para sentar e esperar que tudo se resolva. A mensagem de Oxalá é clara: se o peso do mundo está nas nossas costas, não é porque somos vítimas. É porque somos parte da solução.

E talvez seja por isso que, para nós, esses europeus, a ideia de Oxalá seja tão diferente. Para nós é mais fácil associar fé a algo passivo, algo que recebemos, e não algo que fazemos.

Oxalá vira isso de cabeça para baixo. Ele é fé que trabalha. Esperança que transforma. E, sinceramente, acho que é exatamente disso que cada vez mais o mundo está precisando.

Oxalá é só o começo.


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