— “Você sempre procura um motivo, uma razão para a felicidade?”
A pergunta ficou no ar, como quem acende uma luz suave num quarto quase escuro. Mas não havia qualquer urgência na resposta, apenas a pausa de quem sabe que a felicidade não se explica; escapa entre os dedos, como areia ou vento.
Conversar é isso, não é? Não para descobrir, mas para encontrar. As palavras deslizam sem pressa, porque o tempo aqui não é medido em horas, mas em pausas, risos e respiros. No fundo, tudo começa com um gesto. Um abrir de mãos, mas na alma.
Depois chega o que não se esperou. Uma frase solta, um olhar que amarra sentidos e o sorriso que os desarma. Uma lua cheia.
Há quem diga que é preciso buscar, mas talvez a felicidade more na conversa sem rumo, naquela vontade de dizer o que ninguém convoca.
Partilhar é permitir que o outro nos veja onde nem nós mesmos nos entendemos. É abrir o livro do coração na página certa, mesmo sem saber que essa e a página certa.
— “Você sempre procura um motivo, uma razão para a felicidade?”
E assim, o lume se acende, frágil mas suficiente. Feito de uma felicidade que não é resposta nem caminho. Apenas o momento em que as palavras encontram o seu eco; e esta solidão, mesmo que apenas por um instante, perde o seu próprio nome.
— “Não sei. Talvez eu só esteja à procura da tua companhia.”
São Paulo. 16.jan.2025
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