A Cimeira Portugal-Brasil representa um momento estratégico para redefinir a relação entre os dois países, especialmente num contexto global onde o eixo geopolítico está em transformação. Mais do que um encontro diplomático, esta cimeira deve ser encarada como uma oportunidade de projetar a língua portuguesa como um ativo geopolítico e cultural, criar mecanismos de cooperação econômica de longo prazo e fortalecer uma identidade luso-brasileira que vá além dos laços históricos.
Três pontos essenciais sobre a cúpula Brasil Portugal
1. A língua como um ativo global
Portugal e Brasil continuam presos a uma lógica de tutela sobre a língua portuguesa que já não faz sentido no século XXI. A cimeira deveria reconhecer o português como um território partilhado, que precisa de políticas de promoção conjuntas, desde a diplomacia cultural até à inteligência artificial e à indústria do entretenimento. Caso contrário, o Brasil seguirá sua rota de diferenciação linguística e Portugal perderá relevância nesse diálogo.

2. Economia e inovação: um novo modelo de cooperação
As relações comerciais entre os dois países continuam enredadas em velhas dinâmicas, com Portugal funcionando como uma porta de entrada para a Europa e o Brasil como um grande mercado consumidor. Isso é insuficiente. O desafio agora é criar pontes em setores como tecnologia, inteligência artificial e transição energética, onde a colaboração pode gerar impacto real.

3. Portugal e Brasil no tabuleiro geopolítico global
O Brasil tem um peso crescente no Sul Global e pode desempenhar um papel de mediação em acordos internacionais. Portugal, por sua vez, tem influência na União Europeia e na CPLP. A cimeira deveria pensar em como ambos podem atuar conjuntamente para reequilibrar as relações entre Norte e Sul, fortalecendo um espaço lusófono como alternativa ao eixo EUA-China.
Se a cimeira for apenas um exercício de diplomacia protocolar, perderemos uma grande oportunidade. Mas, se Portugal e Brasil souberem desenhar uma agenda ambiciosa e moderna, este encontro pode marcar um novo ciclo na relação entre os dois países.
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