Amizades extraordinárias nascem de encontros inesperados, onde as almas se reconhecem sem precisar de muitas palavras. Assim foi com Paulo Lins, o autor de “Cidade de Deus”, um homem que carrega nas entrelinhas do rosto a experiência de quem já enfrentou a guerra em suas múltiplas formas. Mas é na simplicidade de sua presença e na paz de seu olhar que se revela algo raro, quase intangível: uma serenidade genuína, a tranquilidade de quem não precisa mais provar nada ao mundo.
Paulo Lins não é apenas um contador de histórias que— é alguém que viveu profundamente o Brasil que narra. Ao seu lado, a conversa flui de maneira natural, sem o peso de quem carrega fardos. Ao contrário, seu discurso é leve, quase poético, como se as palavras carregassem o vento e, com ele, a capacidade de pacificar até os episódios mais turbulentos.
O que surpreende na nossa amizade não é apenas o fato de ele ter criado uma obra cinematográfica que desvela as entranhas da violência urbana, mas a quietude de espírito com que Paulo encara a vida. É um homem que, após presenciar o caos, escolheu não ser definido por ele. A simplicidade, que muitos considerariam impossível para alguém que já cruzou tantos campos de batalha sociais e emocionais, define o que é realmente uma elite. Não a do poder ou do dinheiro, mas a elite humana de quem compreende a vida em sua essência.
A paz que emana de Paulo é um manifesto silencioso contra as agressões que o mundo perpetua. Ele é prova viva de que, mesmo depois de encarar a crueza da vida, a grandeza humana reside na capacidade de encontrar serenidade. É essa conexão que torna nossa amizade tão única. Paulo, o homem que viu a guerra de todas as formas, é o mesmo que escolhe, todos os dias, a paz.
Estas amizades fazem parte das coisas que o Afonso Borges cria.
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