Burocracia, vontade e eficiência

Portugal abriga hoje 1.044.606 imigrantes legais, representando cerca de 9,82% da população. O país passou de uma nação de emigrantes para um destino procurado massivamente por cidadãos do Brasil de países africanos de língua portuguesa e de diversas partes da Europa e da Ásia. Mas este fluxo crescente não se resume a números: reflete uma transformação social que exige políticas eficazes de integração.


A criação da Agência para a Integração, Migração e Asilo (AIMA) substituiu o SEF e prometeu um processo mais ágil e humanizado. No entanto, a morosidade na entrega de documentos compromete o impacto positivo dessa transição. A promessa de eficiência precisa se materializar em respostas concretas, garantindo que os 500 advogados contratados para acelerar os processos não sejam apenas uma medida paliativa, mas um passo real para a modernização do sistema migratório.

“A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.”

Rui Barbosa



O crescimento da imigração é, antes de tudo, uma oportunidade. Os imigrantes representam mais de 10% da força de trabalho e são essenciais para setores estratégicos como turismo, tecnologia e serviços. Além disso, a diversidade cultural enriquece a sociedade portuguesa, trazendo inovação e fortalecendo o caráter global do país.

Mas para que esse potencial se concretize, é preciso ir além da burocracia e apostar na partilha cultural. Modelos internacionais mostram que políticas de integração bem-sucedidas combinam acesso facilitado à documentação, programas de inclusão social e a promoção do intercâmbio cultural. Portugal pode ser um exemplo de como transformar a imigração em um motor de desenvolvimento, mas, para isso, precisa garantir que sua estrutura administrativa esteja à altura desse desafio.

O desafio não está apenas em processar os pedidos, mas em garantir que os imigrantes recebam seus documentos sem que suas vidas fiquem em suspenso. A digitalização de processos, a descentralização de serviços e o reforço da comunicação com os solicitantes podem transformar a experiência, reduzindo incertezas e ansiedades. Portugal tem a oportunidade de ser referência em boas práticas migratórias, mas, para isso, é preciso ir além da burocracia e adotar uma abordagem verdadeiramente eficiente e humanizada.

Diário de Notícias | 11.mar.25

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Comentários

Um comentário a “Burocracia, vontade e eficiência”

  1. Avatar de Daniel D’Oliveira
    Daniel D’Oliveira

    Prezado professor JMDiogo. Eu mesmo sendo bisneto de portugueses do Minho, nascido no Brasil mesmo tendo trabalho e endereço em Lisboa tendo me dirigido ao antigo SEF fiquei surpreso com a enorme fila e depois fui informado de que a burocracia para visto de trabalho estava atrasando bastante qualquer processo.
    Congratulo-me contigo por abordar esse tema.
    Existe um discurso político bem diferente da prática e talvez também por isso estamos também em Portugal em meio à uma crise política administrativa que se arrasta desde os tempos de Sócrates entre outros…
    A esperança é a última que morre porém muitos já a perderam né !

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