Com tarifas de até 25%, produzir fora dos EUA virou um luxo que poucas marcas querem pagar. Mas o Brasil, com sua tarifa simpática de 10% e custos mais baixos, pode virar o plano B mais inteligente da indústria global — se souber jogar.
A decisão da Jaguar Land Rover de suspender exportações para os EUA é só o teaser do filme que está a caminho: o da relocalização industrial por necessidade geopolítica. A Volvo já garantiu dois turnos na sua fábrica americana. A Stellantis cortou 400 empregos no Ohio, mas planeia reorganizar operações. A Nissan levou a produção do SUV Rogue do Japão para o Tennessee. E a Hyundai, mais ambiciosa, vai construir uma nova fábrica nos EUA para garantir o “Made in America” sem susto tarifário.
O movimento é claro: evitar tarifas e incertezas. Mas ele vem com um custo. Produzir nos EUA custa, em média, entre 20% a 30% mais do que no Brasil, dependendo do setor. Para o setor automotivo, o custo médio por veículo fabricado nos Estados Unidos gira em torno de US$ 3.000 a US$ 4.000 acima dos custos no Brasil, segundo estimativas do setor.
Salários, energia, obrigações legais e custo de vida pesam. Já no Brasil, mesmo com sua carga tributária complexa, a combinação de mão de obra mais barata, matérias-primas abundantes e câmbio favorável ainda oferece vantagem — sobretudo se o produto tiver algum grau de transformação industrial.
A tarifa média para importação de veículos brasileiros para os EUA ronda os 10%, dependendo do tipo de produto e do acordo específico. Ainda assim, é muito menor do que os 25% que agora incidem sobre boa parte dos carros europeus e asiáticos. Se o Brasil criar zonas industriais com lógica de exportação, desburocratizar operações logísticas e firmar acordos comerciais inteligentes, pode transformar sua posição periférica em trunfo.
O mundo está mudando sua geografia produtiva. O Brasil tem matéria-prima, energia limpa, mercado interno e fome de crescimento. Só falta fazer as contas — e agir como país com plano. Porque produzir aqui para abastecer o Norte pode ser o novo atalho do capitalismo racional.

ANFAVEA. Relatórios de custos industriais no Brasil. São Paulo, 2024.
Bureau of Economic Analysis (BEA), US Manufacturing Cost Index, Washington, 2023.
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