A eleição de Leão XIV significa a continuação da transformação na Igreja Católica. Não se trata apenas de um rompimento reiterado com a tradição italiana que, por séculos, moldou o papado, mas de um passo decisivo rumo ao futuro.
Um norte-americano no trono de Pedro é mais do que uma escolha geográfica; é um símbolo de continuação de ruptura com o passado mostrando que, desde Karol Wotlytila, as estruturas petrificadas baseadas na hegemonia italiana de antigamente, estão extintas.
Esta nomeação é uma vitória inequívoca dos mais progressistas dentro do Vaticano. A decisão de olhar para o Ocidente, para a América multicultural e em constante mudança, é um sinal de que o catolicismo global não deseja mais se enclausurar nas muralhas de Roma. A escolha de um papa que percorreu missões na América Latina e viveu a fé entre os mais vulneráveis, sinaliza que o foco da Igreja se desloca para as periferias, para os esquecidos, para aqueles que historicamente estiveram à margem.
Mais do que um nome, Leão XIV representa um movimento. A Igreja não deseja mais reconstituir um passado glorioso, mas sim incendiar um futuro possível. É a derrota dos conservadores que insistiam em restaurar as cinzas de uma era que já não encontra eco no mundo contemporâneo. Leão XIV vem para soprar sobre as brasas, reacender o fogo, expandir o diálogo e aproximar a Igreja dos desafios reais do século XXI.
A Cidade de Deus se Expande
Reclamando-se agostiniano sabe que a Igreja sempre foi mais do que um edifício; ela é uma ideia universal, uma comunidade dos crentes espalhada por todos os cantos do mundo.
Talvez Santo Agostinho dissesse que a esta eleição de Leão XIV é um sinal claro de que a Cidade de Deus se expande para além das antigas muralhas romanas, abraçando novas culturas e realidades sociais. “Não é a geografia que define a fé, mas a fé que se propaga pelos corações”, diria ele.
Contra os Donatistas Modernos
Santo Agostinho combateu os Donatistas, que defendiam uma visão purista e exclusivista da Igreja, rejeitando aqueles que consideravam impuros. Da mesma forma, ele criticaria os conservadores que insistem em um modelo petrificado de Igreja, incapaz de dialogar com o mundo moderno. Leão XIV, com sua experiência missionária no Peru e sua visão global, seria para Agostinho um antídoto contra essa visão sectária. “A Igreja é como uma fonte que corre para todos os lados, e não apenas para aqueles que se julgam puros”, ecoaria o bispo de Hipona.
A Esperança da Renovação
Santo Agostinho foi um pensador da esperança. Para ele, o futuro da Igreja não estava na glória do passado, mas na abertura para o novo. Ele veria em Leão XIV um símbolo de renovação, um papa que não teme olhar para as margens, para os esquecidos e para aqueles que a Igreja, por vezes, ignorou. “A medida do amor é amar sem medida”, escreveu Agostinho. E Leão XIV parece disposto a expandir esse amor para além das tradições, para além dos muros, para além das fronteiras.
No final, Agostinho diria que o espírito sopra onde quer — inclusive em Chicago, nos campos do Peru e nas praças de Roma. Para ele, Leão XIV representa uma continuidade da graça divina, uma prova de que a Igreja vive em movimento, e que esse movimento, quando guiado pela fé e pela justiça, só pode levar à Cidade de Deus.
A nave do Vaticano segue em frente. E desta vez, não há retorno ao porto seguro do passado. A Igreja, sob Leão XIV, escolheu navegar. E navegar é preciso.

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