Em Xangai, enquanto os pianos recolhem o silêncio de um país que envelhece, os parques enchem-se de melodias inesperadas. O saxofone é agora protagonista da terceira idade chinesa, soprando acordes que reinventam o conceito de juventude. Parece que, afinal, envelhecer também pode ser um solo de improviso.
Imagine um parque em Xangai, onde os bancos são disputados não por jovens casais de namorados, mas por senhores de cabelos prateados que, ao invés de pombos, atraem olhares curiosos com o brilho metálico de seus saxofones. Se há uma década o piano era o rei dos lares chineses, hoje, os ventos mudaram de direção — e eles tocam sax.
A Yamaha, gigante dos instrumentos musicais, percebeu que a pauta demográfica do país mudou. Com menos crianças nascendo e um número crescente de idosos, a música também precisou rever seus protagonistas. Pianos, majestosos e solenes, cederam espaço aos saxofones, que agora entoam melodias em parques e praças, acompanhando o pôr do sol e a disposição invejável dos novos músicos da terceira idade.
“Envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto se sobe, as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a vista mais ampla e serena.”
Ingmar Bergman
Há algo de poético em imaginar um senhor de setenta anos, que talvez tenha passado a vida inteira entre planilhas e relatórios, agora dedilhando notas musicais ao ar livre. Mais interessante ainda é perceber que isso não é apenas um hobby; é um mercado em expansão. A chamada “silver economy”, que pretende movimentar quase um trilhão de dólares até 2030, encontrou na música um refúgio inesperado.
Na contramão das estatísticas que sempre associaram música a juventude e rebeldia, os idosos chineses reinventam o conceito. Se antes as salas de aula de piano eram lotadas de crianças disciplinadas, hoje são os parques que se enchem de senhoras e senhores experimentando escalas e improvisos no saxofone. E, convenhamos, há algo de deliciosamente subversivo em um aposentado soltando um riff de jazz em plena praça pública.
A Yamaha, atenta ao mercado, já começou a ajustar sua afinação. Menos pianos, mais saxofones digitais, alguns até replicando o som de instrumentos tradicionais chineses. E enquanto os ventos sopram suavemente entre os edifícios de Xangai, os novos saxofonistas preenchem o ar com melodias que, talvez, não tivessem tempo de tocar antes.
Quem diria que a sinfonia do envelhecimento teria o sopro renovado de um saxofone?j Parece que, afinal, a vida não só imita a arte — ela dança ao som dela.

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