Lisboa não sedia apenas um fórum — sedia uma ideia. A ideia de que a língua portuguesa pode ser plataforma de futuro e que Brasil e Portugal, juntos, podem pensar o mundo em voz alta. O XIII Fórum Jurídico de Lisboa, que aconteceu esta semana, é talvez o exemplo mais claro do que deve ser a cooperação entre os dois países: uma aliança intelectual e estratégica, construída com base em respeito mútuo, ambição partilhada e sentido de urgência histórica.

Ali não vi que se trocassem gentilezas — trocaram-se ideias. Juristas, ministros, governadores, académicos e pensadores dos dois lados do Atlântico convergem não apenas para discutir o que está em causa, mas sobretudo para imaginar o que está por vir.
Num tempo em que a democracia se vê sitiada por desinformação, indiferença e plataformas digitais opacas, o Fórum propõe um raro pacto de lucidez. E Portugal, frequentemente enclausurado na prudência europeia, reencontra-se no espelho do Brasil com a coragem de debater.
O que está em jogo não é apenas a cooperação entre dois países irmãos — é a possibilidade de construir, a partir da língua, um centro de gravidade intelectual e político no Atlântico Sul,
A cooperação luso-brasileira, tantas vezes reduzida a afetos culturais ou tratados simbólicos, ganha aqui densidade geopolítica. O Brasil muitas vezes oferece o caos fértil das reformas em curso, a prática constante da reinvenção federativa e uma política em ebulição; enquanto Portugal aporta a estabilidade institucional, a matriz jurídica europeia e a arte de mediar complexidade com elegância. Mas o que o Fórum demonstra é que a diferença entre os dois países não é obstáculo — é potência. A assimetria torna-se complementaridade, e a língua, mais do que um elo, é uma alavanca.
O Fórum do ministro Gilmar Mendes, a quem todos carinhosamente designam por Gilmarpalooza, não ensina apenas o que pensar — ensina a pensar junto. Temas como soberania digital, justiça criminal, financiamento da saúde pública, algoritmos e governança global são tratados com coragem e método. A democracia portuguesa — tão sólida quanto conservadora — aprende com o Fórum que escutar a dissonância é um ato de inteligência. Que o conflito não precisa ser evitado, mas administrado com estrutura. Que o futuro exige mais risco do que consenso.
Ao pensar em conjunto, Portugal e Brasil desenham a hipótese de uma nova comunidade lusófona do século XXI: estratégica, conectada, reguladora, capaz de influenciar e não apenas de reagir. E fazem-no sem nostalgia, sem folclore, sem dependência. Fazem-no como parceiros que sabem que, na política internacional, o tempo da língua já não é o passado — é a próxima fronteira.
Porque o que está em jogo não é apenas a cooperação entre dois países irmãos — é a possibilidade de construir, a partir da língua, um centro de gravidade intelectual e político no Atlântico Sul, capaz de irradiar influência, regular o futuro digital, proteger a democracia e antecipar os dilemas que os outros só saberão nomear quando for tarde.
O Fórum de Lisboa mostra que isso é possível. E mais do que isso: mostra que já começou.